Autor: Deborah Margatho; CRM-SP 97.536; RQE 248.092
Revisor: Wellington Martins; CRM-SP: 104.946; RQE 900.451
Nos últimos 30 anos, as taxas de cesariana aumentaram significativamente ao redor do mundo, passando de 7% para 21%. Esse crescimento varia entre as regiões: na América do Norte, a taxa é de 32,2%, na Europa 31,3%, na Ásia 28,5% e na África 10,4%. No Brasil, a taxa de cesarianas foi impressionantes 57,6% em 2022.
Esse aumento nas cesarianas traz à tona a questão da istmocele, um defeito na cicatrização do útero pós-cesariana, caracterizado pelo acúmulo de líquido no miométrio. O diagnóstico da istmocele pode ser feito através de ultrassonografia transvaginal (USTV), histerossalpingografia (HSG), histerossonografia, histeroscopia (HSC) e ressonância magnética (RNM). Na maioria dos casos, a istmocele é identificada incidentalmente durante a USTV.
As complicações ginecológicas associadas à istmocele incluem sangramento uterino anormal (SUA), dor pélvica crônica, dispareunia e dismenorreia. Já as complicações obstétricas podem envolver placenta prévia, acretismo, rotura uterina e gestação cervical, sendo mais frequentes em mulheres com infertilidade secundária.
Impacto da Istmocele na Reprodução Assistida
A presença da istmocele deve ser investigada rotineiramente em pacientes com infertilidade secundária, pois pode impactar negativamente o sucesso dos tratamentos de reprodução assistida (TRA).
Medidas relevantes obtidas por ultrassom TV ou histerossonografia incluem comprimento, profundidade, miométrio residual, largura, espessura do miométrio adjacente, distância entre o nicho e a prega vesicovaginal (VV) e distância entre a lesão e o orifício externo. O líquido da istmocele pode refluir para o endométrio, dificultando a implantação embrionária e comprometendo a vitalidade embrionária, o sucesso da implantação e a progressão da gravidez.
Estudos de corte retrospectivos (2016-2021) que focaram em mulheres com infertilidade secundária e histórico de cesárea, comparando taxas cumulativas de gestação clínica, nascidos vivos e complicações obstétricas entre mulheres com e sem istmocele, revelaram que aquelas com istmocele apresentaram taxas de nascidos vivos mais baixas.
Tratamento da Istmocele
A istmocele pode ser tratada por laparotomia, laparoscopia, histeroscopia ou cirurgia vaginal, embora as evidências sobre os benefícios dessas intervenções ainda sejam limitadas. A cirurgia pode ser considerada em casos de falha de implantação em tratamentos de reprodução assistida. No entanto, mais estudos são necessários para confirmar se a cirurgia de istmocele melhora os resultados reprodutivos e para identificar pacientes que poderiam se beneficiar dessas intervenções.
Referências:
1.Prevalence and clinical effect of caesarean scar defects in women undergoing IVF. RBMO VOLUME 47, 2023
2.Isthmocele, not cesarean section per se, reduces in vitro fertilization success: a systematic review and meta-analysis of over 10,000 embryo transfer cycles. Fertil and Steril Vol. 121, No. 2, 2024
3.Sonographic examination of uterine niche in non-pregnant women: a modified Delphi procedure. Ultrasound Obstet Gynecol 2019; 53: 107–115
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